Opinião: O Paradoxo da Verticalização de Balneário Camboriú!

17 de dezembro de 2016

Existe uma reclamação bastante comum entre algumas pessoas que visitam ou moram em Balneário Camboriú. “ Aqui tem prédio demais” ou “esses prédios são muito altos” ou mesmo e principalmente quando alguém se depara com os novos >lançamentos de edifícios altose exclama “nossa, onde vai parar tudo isso? ”. Bom, exatamente sobre esse tipo de reclamação que gostaria de falar aqui.

Considero Balneário Camboriú um fenômeno único dentro da realidade brasileira e por que não dizer, da américa latina, uma cidade litorânea jovem, cheia de vida e de opulência, com uma qualidade refinada que pode ser comparada com muitas cidades do mesmo conceito no mundo desenvolvido. Particularmente a construção civil vertical tem se diferenciado das outras cidades da américa latina. Cada ano que passa surgem na cidade novos edifícios, mais altos, com fachadas mais modernas e com estruturas mais convidativas. Atraindo a cada ano que passa um público mais exigente, mais esclarecido e com renda mais alta.

A prova mais clara disso é a quantidade crescente de gente que visita com assiduidade Balneário Camboriú, outra parte que >compra imóvel e mantém uma espécie de segunda casa, e outro grupo de pessoas que se mudam definitivamente para a cidade em busca de oportunidades de trabalho ou apenas qualidade de vida.

Como é típico de nós Brasileiros, temos uma memória muito curta a respeito da nossa própria história. Muitas das pessoas que criticam com veemência a verticalização da cidade se esquecem que quando decidiram vir para a cidade, quer para moradia, quer para passar temporadas, tiveram que procurar um apartamento em algum prédio o mais próximo do mar possível, procurando claro, pelo prédio mais novo da época, com melhor estrutura, vista e status (segundo as suas prórpias possibilidades financeiras). Outros frequentadores assíduos da cidade procuram apartamentos para alugar que um dia alguma construtora construiu.

A história de Balneário é bastante interessante, envolve a presença de ilustres frequentadores tais como presidentes da república e o advento de grandes empreendedores da construção civil que contribuíram com muito trabalho, e a companhia de uma pequena multidão de frequentadores anônimos, a massa crítica necessária para a construção da cidade que temos hoje. O que nos interessa aqui é entender que a qualidade geral da cidade se deve, e principalmente se deve por conta da verticalização descontrolada e precoce da cidade. Nenhuma cidade da Orla de Santa Catarina abrigou tanta gente em tão pouco espaço o que criou diferenciações consistentes na estrutura da cidade, nos serviços e nas relações humanas. As pessoas que reclamam da verticalização da cidade (e mesmo assim não trocariam ela por nada), frequentam cafés de qualidade, padarias, restaurantes diversos, barzinhos, baladas, lojas e shoppings que de forma alguma sobreviveriam se a cidade não tivesse essa quantidade de apartamentos com essa quantidade de gente que torna a estrutura diferenciada e abundante viável.

Outra coisa que se esquecem é que existe uma complexa rede de relacionamento já formada ao longo dos anos, tornando Balneário uma espécie de cidade de encontros ou uma segunda cidade. Isso é algo notório pois dificilmente em alguma outra cidade poder-se-ia mesmo estando a quilômetros de distância da própria moradia encontrar tanta gente familiar e conhecida, isso se deve a tradição de grupos que elegeram a décadas a cidade como opção principal de veraneio e segunda moradia.

Esse é o grande paradoxo que esses amantes da cidade irreflexivos almejam em suas críticas contra a verticalização. Sonham com uma cidade idealizada, ou seja, cheia de amigos, cheia de vida, cheia de comercio de qualidade, onde se possa fazer quase tudo a pé, com imóveis de qualidade onde quem pode troca com frequência razoável, mas querem que se elimine a parcela da cidade que ainda não foi construída, ou seja, boa parte do motor humano que gerou essa cidade e sustenta a estrutura dela diariamente.

Depois de ler até aqui alguns vão me perguntar, eu já sei. Mas e a Infraestrutura daqui pra frente? E os novos empreendimentos, deveriam ser contidos para não piorar a situação de transito e outras contingencias que estão no limite?

Minha resposta é absolutamente NÃO! É a maneira mais errada e a mais burra de se abordar esses problemas naturais de cidades que possuem grande crescimento vertical.

Ora hoje o grande cartão postal e a grande identidade de Balneário Camboriú é sua SkyLine, ou seja, suas obras de grande qualidade internacionalmente reconhecidas. Apenas por esse fato já não valeria a pena frear este desenvolvimento único no País. Mas existem outros fatores a se considerar. Baixar o potencial construtivo poderia causar uma crise imobiliária nova na cidade. Os terrenos remanescentes baixariam de preço ou o custo para se adquirir um terreno poderia tornar algumas obras inviáveis pelo simples fato de diminuir o número de unidades potenciais. O que poderia influenciar os preços dos apartamentos já construídos. Isso nos terrenos de Frente para o Mar, na quadra do Mar ou na Av. Brasil a impossibilidade de criar apartamentos mais altos para terem vista por cima de prédios antigos tornaria também os projetos pouco atrativo para as construtoras e investidores.

Outro fator importante é que não teríamos mais condomínios de alto padrão com infraestrutura de Resorts e custos de condomínio baixos. Essa conta é bem fácil de fazer, em um exemplo de um terreno com 3 mil metros quadrados se construiria aproximadamente um edifício com 50 pavimentos sendo pelo menos 4 de garagens e 2 de lazer onde a metragem de lazer seria superior à do terreno, os outros 44 pavimentos suportariam 88 apartamentos de 3 suítes de alto padrão que dividiriam os custos de toda infraestrutura. Esses prédios não mais seriam possíveis. Para quem vive da construção civil ou usufrui dela esse seria um grande retrocesso.

Não podemos esquecer que existe um grande mercado que depende da construção civil na cidade, desde corretores de imóveis, empregados administrativos, engenheiros e milhares de pedreiros. Além de outros profissionais ligados a pós entrega dos imóveis tais como instaladores de ar condicionado, arquitetos, decoradores e lojas de móveis. Poderia citar mais uma dezena de profissionais e empresas ligadas direta ou indiretamente a construção civil da cidade. O Interessante é que algumas pessoas que criticam a verticalização da cidade irresponsavelmente, são ligadas ou dependem do mesmo ramo para viver e faturar dinheiro.

Sei que você vai pensar neste meu exemplo de um prédio com 88 apartamentos, vai fazer um cálculo meio genérico colocando 4 pessoas ocupando cada apartamento e mais 3 carros em cada garagem, ou seja 350 pessoas “novas” na cidade e mais 260 carros “novos” nas ruas. A verdade é que não funciona bem assim. Não existe uma estatística sobre a quantidade de moradores que um edifício em Balneário possui, mas eu diria em minha experiência que seria algo entre 20% e 30% de moradores permanentes, esse número fica ainda menor quanto mais caro e mais novo o edifício é. Isso mesmo, um prédio de 88 apartamentos terá em seu primeiro ano não mais do que 8 moradores, e no segundo talvez 15. Isso varia muito, todas as unidades são vendidas, mas poucos são os que usufruem como morador saindo com carro todos os dias de casa e usufruindo da infraestrutura da cidade. Os demais proprietários ou são investidores ou frequentam a cidade em datas intercaladas o que mesmo em semanas abarrotadas como a do ano novo e carnaval deixa esses edifícios com ocupação ainda baixa. Eu diria que a inauguração de um prédio de alto padrão na cidade é praticamente irrelevante para o acirramento da pressão sobre as infraestruturas da cidade pois pouco consomem dela.

O foco de nossas energias críticas devem estar sim em cobrar da prefeitura obras consistentes de melhorias nas infraestruturas de segurança, mobilidade, transporte público, saneamento, estética turística e de bem-estar. O resto a iniciativa privada faz e com muita qualidade. O alargamento da faixa de areia (eliminando a sombra dos prédios na areia), a melhoria e ampliação da orla com calçadões e quiosques mais modernos, a viabilização da parada de transatlânticos, a eliminação da fiação exposta nas avenidas, um transporte público de qualidade e a criação de novas avenidas são alguns exemplos de obras que farão toda diferença no futuro da cidade.

Devemos compreender que os principais motivos pelos quais as pessoas reclamam da cidade são praticamente os mesmos que a tornaram a cidade maravilhosa que é.

Para concluir. Eu diria que não devemos nem cogitar a possibilidade de mudar os potenciais construtivos atuais para menos, muito pelo contrário, deveríamos facilitar prédios que consumam o maior número possível de terrenos dessa forma combinando harmonicamente com os prédios antigos já construídos evitando ao máximo a existência de casas “condenadas” ou isoladas entre prédios. Ou seja, facilitar a melhor relação possível entre a posição da torre no terreno e seu enorme embasamento propiciando um número bem maior de vagas, distancias maiores entre as torres (proporcional à altura delas) e principalmente, o benefício mais democrático que um edifício novo pode proporcionar, calçadas amplas e adaptadas para o comercio e a qualidade de vida geral da população. Afinal, a vida de uma cidade acontece no nível do solo e disso Balneário Camboriú pode ser orgulhar e muito!

Texto de Eduardo Liebert

Balneário Camboriú nos Anos 60

01 de dezembro de 2016

Este vídeo promocional feito nos anos 60 já mostrava a pujança de Balneário Camboriú na época, sendo reconhecida por suas belezas naturais, porém mais ainda por seu crescimento em infraestrutura, hotelaria e construção civil. Com destaque para as construções dos irmãos Delatorre e do Hotel Cassino Marambaia. Também foi destacado o fato de na época o presidente João Goulart ter uma casa para veraneio na cidade. Confira!